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domingo, 13 de março de 2011

SONDA NASOGÁSTRICA/NASOENTÉRICA

SONDA NASOGÁSTRICA/NASOENTÉRICA: CUIDADOS NA
INSTALAÇÃO, NA ADMINISTRAÇÃO DA DIETA E
PREVENÇÃO DE VisualizarCOMPLICAÇÕES
GASTRIC/ENTERIC TUBE: CARE ON THE INSERTION, ADMINISTRATION
OF DIETS AND PREVENTION OF COMPLICATIONS
Maria do Rosário D L De Unamuno1 & Julio S Marchini2
1Enfermeira.Unidade de Estudos Metabólicos da Divisão de Nutrição Clínica do Departamento de Clínica Médica do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP . 2 Docente do Departamento de Clínica Médica/Divisão de Nutrição Clínica
da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP.
CORRESPONDÊNCIA: Hospital das Clínicas Campus.- Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Unidade Metabólica - 5° andar. Cep:14048
900 - Ribeirão Preto SP. unamuno@usp.br e jsmarchi@fmrp.usp.br
UNAMUNO MRDL & MARCHINI JS. Sonda nasogástrica/nasoentérica: cuidados na instalação, na administra-
ção da dieta e prevenção de complicações. Medicina, Ribeirão Preto, 35: 95-101, jan./mar.2002.
RESUMO: Cada dia mais, a terapia nutricional é reconhecida como importante fator na
recuperação de doentes. As sondas modernas possibilitam a oferta de nutrientes e a melhora
do estado nutricional, por meio de métodos pouco invasivos, desde que o aparelho digestivo
tenha conservado, pelo menos, parte de sua capacidade de absorção. O procedimento requer
cuidados especializados, posto que não é isento de complicações. A equipe que assiste o
paciente que recebe terapia nutricional através de sondas deve ter conhecimento da instalação
das mesmas bem como da administração das dietas e treinamento para prevenir, reconhecer e
tratar as complicações. Apresentamos, neste artigo, as técnicas de introdução das sondas,
infusão das dietas e principais complicações, que podem advir dessa terapia.
UNITERMOS: Nutrição Enteral.
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1. INTRODUÇÃO
Desde as eras mais antigas, buscavam-se outras
vias para alimentar pacientes impedidos de comer
pela boca. Os egípcios alimentavam seus pacientes
através de sondas retais e, com o passar dos anos,
houve empenho em se fabricarem tubos de alimenta-
ção, que possibilitassem maior conforto aos pacientes.
Muitos materiais foram utilizados para a confecção de
sondas nasoentéricas, entre eles a borracha, o polietileno
e, mais recentemente, o poliuretano e o silicone(1).
Ao mesmo tempo em que se buscava melhorar as sondas,
também houve progresso nas formulações dieté-
ticas para a terapia nutricional enteral(2,3).
Na década de setenta, Liffmann & Randall(1) e
Dobbie & Hoffmeister(4) construíram sondas de
jejunostomia e sondas nasais de fino calibre, com uma
ogiva distal que possibilitava o posicionamento delas
além do esfíncter piloro e permitia a administração de
dietas de maneira mais confortável e segura principalmente
nos pacientes idosos, acamados e com reflexos
diminuídos. Esse tipo de sonda passou a ser
conhecido como sonda de DOBBHOFF, que, hoje, são
fabricadas em poliuretano e silicone, materiais que não
sofrem alteração física na presença de pH ácido, conservam
flexibilidade, maleabilidade e durabilidade, não
irritam a mucosa digestiva, e, por serem de pequeno
calibre, permitem o fechamento dos esfíncteres cárdia
Medicina, Ribeirão Preto,
35: 95-101, jan./mar. 2002 DESCRIÇÃO DE MÉTODOS, TÉCNICAS E INSTRUMENTAIS
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MRDL Unamuno e JS Marchini
e piloro(5,6,7). Com isso, os efeitos colaterais, que ocorriam
freqüentemente, com o uso das antigas sondas
calibrosas de polivinil, como, por exemplo, aspiração
pulmonar, irritação nasofaríngea e refluxo gastroesof
ágico, diminuíram. Procedimentos corretos e cuidados
na instalação da sonda e na administração da
dieta, porém, são de vital importância para evitar as
complicações e fazer com que o paciente receba os
benefícios da terapia(5,8).
No ano de 1999, o Ministério da Saúde, através
da Portaria 337 e da Resolução 63 de 2000, normatizou
a Terapia Nutricional Enteral e oficializou as atribui-
ções de cada profissional dentro da equipe multiprofissional
especializada, que obrigatoriamente deve estar
presente nas instituições que usam a prática da
nutrição por meio de sondas digestivas e cateteres
venosos. Alimentar um paciente por sonda, seja por
via nasal ou ostomia, necessita de cooperação do paciente
e de seus familiares, principalmente quando
existe indicação dessa terapia no domicílio.
A motivação individual desempenha papel importante
no comportamento do paciente. Um dos meios
para isso é melhorar a qualidade de informação e a
compreensão do paciente sobre sua enfermidade e
salientar a necessidade da terapia nutricional. Estimular
e ensinar o paciente e seus familiares a participar
dos cuidados com as sondas e administração das
dietas ajudará na redução da ansiedade e aumentará
a segurança deles, garantindo um melhor resultado no
seu estado nutricional, reduzindo-se riscos de complica
ções. Assim, o objetivo deste artigo é ressaltar os
aspectos práticos, relevantes sobre os principais princ
ípios da nutrição enteral, incluindo a instalação da
sonda, administração da dieta e complicações mais
freqüentes da terapia.
2. INDICAÇÕES E TIPOS DE SONDAS
Atualmente, existe clara distinção entre as sondas
utilizadas para infundir nutrientes e aquelas utilizadas
para drenagem de secreções digestivas. As sondas
de polivinil devem ser usadas somente para drenagem
gástrica e por períodos menores que 30 dias (9).
O uso de sondas enterais com a finalidade de
se administrar alimentos deve ser feito sempre que
houver contra-indicação ou impossibilidade de se utilizar
a via oral fisiológica; é de ressaltar-se, porém,
que o tubo digestivo deve estar presente, com capacidade
de absorção, total ou parcial, conservada (6,10,11). 
Nos pacientes com fístula intestinal, proximal de baixo
débito, a porção distal da sonda deverá estar além
da fístula. Por outro lado, pacientes portadores de obstru
ção intestinal completa, ou aqueles em que se faz
necessário o repouso absoluto do trato digestivo, a alimenta
ção por sondagem não está recomendada.
Atualmente, estão disponíveis dois tipos gené-
ricos de sondas para alimentação: as utilizadas via
nasogástrica e via nasoentérica e as de ostomias. As
sondas nasoentéricas têm de 50 a 150 cm de comprimento,
e diâmetro médio interno de 1,6 mm e externo
de 4 mm. Todas têm marcas numéricas ao longo de
sua extensão, que facilitam a verificação do seu posicionamento
final. É controverso se os tubos com
“peso” na extremidade distal oferecem vantagens na
sua passagem transpilórica e na manutenção da sua
localização(12,13); é aceito, todavia, que a intubação póspil
órica é facilitada pelas sondas que possuem uma
ogiva distal de 2 a 3 g, confeccionadas, geralmente,
de tungstênio. Essa ogiva faz com que o peristaltismo
gástrico e intestinal, agindo sobre ela, posicione a sonda
corretamente(12,14,15). Assim sendo, a passagem da
sonda pelo piloro se faz de maneira espontânea e lenta
de 4 a 24 h. Paz et al., na Filadélfia(16) e Jimenez e
al. (17) na Espanha concluiram que o uso de sondas
com peso diminui o número de tentativas para alcan-
çar a sondagem gástrica e tais tubos se mostraram
mais duradouros, isto é, com menor risco de extubação
involuntária, principalmente nos pacientes com dificuldade
para engolir ou inconscientes. Por serem radiopacas,
as sondas atuais possibilitam que sua localiza-
ção seja confirmada por meio de exame radiológico.
Por serem bastante maleáveis, um guia metálico e flex
ível é utilizado para facilitar sua introdução nasal. Na
extremidade proximal, são encontrados adaptadores
simples ou duplos; estes últimos são usados para facilitar
a irrigação da sonda ou administração de medicamentos,
sem necessidade de interromper a infusão de
dieta.
O uso de  sondas para ostomias, atualmente, é
restrito em nosso meio, apesar de serem de grande
valia nos pacientes que necessitam receber alimentos
por essa via durante muito tempo. As mais modernas,
para gastrostomia, são de silicone ou de poliuretano,
com paredes finas e flexíveis, numeradas e com duas
vias que facilitam a irrigação e a administração de
medicamentos, mesmo durante a infusão da dieta. As
vias possuem tampas e adaptadores que evitam vazamentos,
além de permitir uma conexão segura com o
equipo. Dispositivos na parte distal, com os balões
insufláveis ou do tipo “estrela”, permitem que a sonda
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Sondas: cuidados e administração de dietas
se mantenha bem posicionada no estômago e impedem
que secreções digestivas saiam através do conduto
e lesem a pele. As sondas usadas para alimenta-
ção gástrica têm comprimento aproximado de 35 cm
e diâmetro, variando de 9 a 24 French (1 French=0,33
mm). As sondas para jejunostomia são de poliuretano
ou silicone e possuem um diâmetro menor que a de
gastrostomia,  em torno de 9 a 15 French; podem ser
instaladas percutaneamente, usando-se anestesia local
(18,19) e devem ser fixadas na pele para que não se
desloquem; por serem resistentes, podem permanecer
no paciente por longo tempo (5 meses ou mais),
sendo necessária a troca somente quando apresentarem
problemas como ruptura, obstrução ou mal funcionamento(
20).
3. INSTALAÇÃO DAS SONDAS
Vários procedimentos têm sido descritos para
instalar sondas enterais(2,8,14,21/25). Tais procedimentos
são peculiares, não havendo uma uniformização
absoluta e geral. A seguir, descreve-se a técnica utilizada
em nosso meio. Assim sendo, procuramos selecionar
os principais passos indicados pelos diversos
autores e os agregamos à nossa experiência pessoal.
Para a instalação das sondas nasogástrica e
nasoentérica, recomenda-se que o paciente esteja em
jejum alimentar de pelo menos 4 h, pois a presença de
alimentos no estômago reduz os movimentos gástricos,
importantes para o posicionamento da sonda e
favorece a ocorrência de náuseas e vômitos. Uma
medida seria manter o paciente em jejum, logo após a
última refeição do dia, e realizar a passagem da sonda
pela manhã.
Ao realizar o procedimento, as etapas abaixo
são as recomendadas.
1. Explicar e orientar o paciente sobre a importância
e a necessidade do uso da sonda e deixar que ele a
manuseie. Esta etapa é fundamental para que o
procedimento seja mais fácil.
2. Colocar o paciente sentado ou deitado com a cabeceira
do leito elevada a 45º graus.
3. Medir a extensão da sonda, que deve ser introduzida,
colocando-se seu orifício distal na ponta do nariz,
estendendo-a até o lóbulo da orelha e daí até o
apêndice xifóide. (Quando houver indicação do posicionamento
no estômago, introduzi-la até este ponto.
Para o posicionamento na segunda/terceira por-
ção do duodeno ou jejuno, deverá migrar espontaneamente
com o estímulo peristáltico 25cm ou mais).
4. Depois de ser determinada a porção da sonda que
será introduzida, umidecê-la com água. Após verificar
se o paciente tem alguma obstrução nasal,
selecionar a narina; observar, também, se existe desvio
de septo, o que poderá dificultar a passagem da
sonda. Pequena quantidade de anestésico local pode
ser colocada na narina para diminuir o desconforto.
Algumas vezes, o uso do próprio anestésico local
pode ser causa de desconforto passageiro.
5. Introduzir delicadamente a sonda na narina, acompanhando
o septo nasal e superfície superior do
palato duro.
6. Orientar o paciente para relaxar os músculos da
face e, quando sentir que a sonda chegou à garganta,
orientá-lo para inspirar e “engolir fortemente
”, para evitar a sensação de náusea, causada pela
presença da sonda na faringe.
7. Se o paciente está consciente, oferecer água e pedir-
lhe para dar “pequenos goles”. Em cada degluti
ção da água, introduzir lenta e delicadamente a
sonda através da narina, avançando até o esôfago
e estômago, guiando-se pela medida feita anteriormente.
Nos pacientes com reflexos diminuídos,
flectir a cabeça para que a glote se feche e proteja
as vias aéreas. Quando, após cada deglutição, a
sonda “caminha espontaneamente” na mão do profissional,
não há dúvida de que a sonda está se
posicionando corretamente no esôfago. A movimenta
ção peristáltica do esôfago é voluntária no seu
terço superior e involuntária nos 2/3 distais (mesmo
em pacientes inconscientes), e as vias aéreas não
têm tal capacidade.
8. Observar se o paciente apresenta tosse, dificuldade
respiratória, cianose, agitação, que podem ser
manifestações de um desvio da sonda para as vias
aéreas. Nesse caso, deverá ela ser retirada e reintroduzida.
A flexão da cabeça obstrui as vias aéreas
superiores, portanto, nunca tentar passar a sonda
enteral com a cabeça em extensão.
9. Quando sentir resistência na introdução da sonda,
verificar se ela já atingiu o estômago. Isto pode ser
verificado por meio de uma das formas: aspirar 
suco gástrico com seringa de 20 ml (seringas menores
são contra-indicadas, porque oferecem press
ão excessiva e podem danificar a sonda e lesar a
mucosa gástrica); introduzir de 10 a 20 ml de ar
através da sonda e auscultar com estetoscópio, logo
abaixo do apêndice xifóide (deve-se auscultar um
ruído, indicando que a extremidade da sonda está
no estômago e está pérvia); mergulhar em água a
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MRDL Unamuno e JS Marchini
extremidade proximal da sonda e verificar se há
saída de bolhas de ar. Isto indica que ela está nas
vias aéreas. Fazer este último procedimento com
cuidado, para se evitar ocorrência rara de aspira-
ção de líquido para o pulmão. Além das manobras
indicadas, observar se o paciente apresenta dispn
éia, cianose, prostração ou ainda dificuldade para
falar.
10. Depois de confirmado o posicionamento gástrico,
para a sonda “migrar” até o intestino delgado, ela
deve ser fixada na face do paciente, deixando-se
uma alça que será desfeita espontaneamente conforme
os movimentos peristálticos. A instalação no
intestino ocorre de forma lenta, dependendo da
peristalse gastrintestinal, o que permitirá a passagem
pelo piloro.
11. Para que a chegada da sonda no intestino seja mais
rápida, pode-se lançar mão de algumas manobras
como: colocar o paciente em decúbito lateral direito,
estimular deambulação ou ainda administrar drogas
estimulantes  da motilidade gástrica(8,26,27).
Antes de se iniciar a administração da dieta,
todos os testes de posicionamento da sonda devem
ser rigorosamente feitos, para que não existam dúvidas
quanto à presença dela no tubo digestivo. O mé-
todo considerado padrão-ouro é o RX de abdômen ou
fluoroscopia. No paciente com distúrbios neurológicos,
inconsciente, idoso ou traqueostomizado, o risco
de mau posicionamento do tubo de alimentação é
maior. Testes de ph do líquido aspirado através da sonda
com valores menores que 6 sugerem que a sonda
se encontra no estômago, porém a presença de alimentos
e medicamentos no tubo digestivo pode mascarar
o teste(22,28,29,30). Quando não existe coopera-
ção do paciente ou existe algum obstáculo nas primeiras
porções do tubo digestivo, a sonda deverá ser introduzida
com o fio-guia, tomando-se o cuidado de
injetar 5 ml de vaselina líquida na luz da sonda, para
que ele possa ser retirado com mais facilidade. Somente
depois de confirmado o posicionamento no est
ômago, é que o fio-guia deverá ser retirado. Nunca
se pode introduzir o fio-guia na sonda, depois de ela já
se encontrar  instalada no paciente.
4. ADMINISTRAÇÃO DA DIETA
A dieta poderá ser administrada de maneira
contínua, intermitente ou em “bolus”, considerandose
o estado do paciente, localização da sonda, tipo de
dieta, necessidades nutricionais e alimentação por via
oral concomitante. A alimentação contínua deverá ser
infundida num volume máximo de 100-150 ml/hora.
A intermitente consiste na oferta de 200 a 400 ml de
dieta, 4 a 6 vezes ao dia, durante um período de aproximadamente
2 horas, através de gravidade ou bombas
de infusão A administração em “bolus” é feita
através de seringas ou frascos de dieta, usando-se a
gravidade ou infusão rápida durante 5 a 15 min. Não
se recomenda a infusão em “bolus” em pacientes cujo
reflexo da tosse esteja abolido, pois, nesse caso, a
sobrecarga rápida do estômago poderia resultar em
refluxo e conseqüente aspiração(2,20,29). Se o paciente
se alimenta por boca, será conveniente, como complemento,
uma dieta em “bolus” longe dos horários
da alimentação. A administração contínua durante o
período noturno permite que o paciente deambule e
se alimente normalmente durante o dia, favorecendo,
assim, sua participação no convívio familiar nos horá-
rios de refeição.
A infusão da dieta no estômago ou intestino
sempre deverá ser feita estando o paciente sentado
ou na posição semi-sentado a pelo menos 45º ; esta
posição deverá ser mantida durante 1 h após a administra
ção da dieta; tal  cuidado previne o refluxo, oferecendo
mais conforto ao paciente. Para eliminar os
resíduos de gordura e restos de dieta, que podem obstruir
a luz da sonda, deverá ela ser irrigada com 20 ml
de água, de preferência morna, após cada administra
ção de dieta ou medicamentos(30). Na ocorrência
de obstrução, injetar água morna, com leve pressão,
usando-se preferentemente uma seringa de 50 ml para
que a sonda não se danifique com pressão excessiva,
causada pelas seringas menores. O fio-guia não
deverá ser introduzido na sonda na tentativa de
desobstruí-la, porque poderá perfurá-la e lesar a mucosa
digestiva.
Os sistemas fechados de dieta são bastante
práticos e seguros, porque diminuem a necessidade
de manipulação e o risco de contaminação; é indicado,
porém, que o tempo máximo de gotejamento seja
de 24 h, bem como para a troca dos equipos de infus
ão. As bombas de infusão com alarme são de grande
valor, porque permitem o controle do fluxo da dieta
e também acusam problemas como: obstrução, presen
ça de ar no sistema, término da dieta ou bateria
descarregada.
O paciente, sempre que possível, deve ser estimulado
a participar da terapia, cuidando da higiene
das narinas e da sonda, e ainda ser instruído sobre o
manuseio da bomba de infusão, horários de infusão,
99
Sondas: cuidados e administração de dietas
bem como a relatar sintomas de desconforto e mal
estar, mudanças no hábito intestinal ou qualquer altera
ção que possa indicar uma complicação da terapia.
5. OSTOMIAS
As sondas para alimentação também podem ser
instaladas no estômago ou no jejuno através de “ostomias
”, usando-se sondas especiais. As técnicas atuais
permitem que o posicionamento seja feito através de
perfusão cutânea, sem necessidade de procedimento
cirúrgico(23,31,32).
É um método útil de alimentação, quando existe
impossibilidade parcial ou total de o paciente comer
pela boca por períodos longos e até mesmo definitivo,
quando existe qualquer barreira fisiológica nas por-
ções mais altas do tubo digestivo, o que pode dificultar
a passagem de uma sonda nasoentérica, e ainda, quando
os pacientes auto removem as sondas nasais(33).
As vantagens das ostomias incluem: menor risco
de refluxo da dieta e aspiração, facilidade de o pró-
prio paciente administrar sua dieta, além de manter
sua aparência sem presença de sonda na face, o que
pode representar fator negativo para sua auto-imagem.
Os cuidados na administração da dieta por ostomias
são os mesmos do uso de sondas nasogástricas/
nasoentéricas.
6. COMPLICAÇÕES E CUIDADOS GERAIS
As complicações da terapia nutricional enteral
se relacionam basicamente com: mal posicionamento
da sonda, contaminação,  administração inadequada
da dieta ou intolerância a algum componente da fórmula(
2,5,20,34).
As sondas de fino calibre não prejudicam a capacidade
de contração esfincteriana, diminuindo o risco
de refluxo gástrico e um conseqüente risco de pneumonia
aspirativa, principalmente em pacientes inconscientes
ou com reflexos diminuídos. Conseqüentemente,
para eles, indica-se o posicionamento em duodeno
ou jejuno(13). A fixação da sonda na face do paciente
deverá ser feita de maneira cuidadosa, tomando-se o
cuidado de não tracionar a asa nasal que poderá ser
ulcerada devido à umidade e ao atrito local. Evitar o
uso exagerado de fios e adesivos que farão com que a
visão do paciente seja prejudicada.
Diarréia é a complicação mais comum na alimenta
ção por sonda e, geralmente, resulta de contamina
ção bacteriana da dieta, infusão rápida com sobrecarga
osmolar e intolerância a lactose(35). Cuidados
de higiene no preparo, conservação em local limpo,
com temperatura de 2 a 8º até 24 h após o preparo,
bem como a troca diária do equipo e frascos de
dieta, reduzem o risco de crescimento bacteriano.
A administração rápida de solução hiperosmolar,
no lúmen intestinal, provoca hipermotilidade, cólicas e
diarréia hiperosmolar, podendo ser corrigida através
da diluição inicial da solução, com um gradual aumento
na concentração, conforme a tolerância do paciente(
21). A administração contínua faz com que o volume
total da dieta seja distribuído ao longo das 24 h e
ajuda o intestino a adaptar-se a uma concentração
osmolar constante. O uso de bombas de infusão contribui
para que o volume programado de dieta seja
administrado de maneira mais segura.
A intolerância à lactose é causada por defici-
ência primária ou temporária de lactase. A lactose
não digerida faz com que haja sobrecarga osmolar no
intestino, resultando em diarréia. Quando a causa é
esta, o problema deve ser corrigido através de fórmulas
livres de lactose(20.
A albumina sérica é um importante fator na
manutenção da pressão osmótica intestinal, ajudando
a aumentar a capacidade de absorção das vilosidades
intestinais. Na desnutrição, níveis baixos de albumina
levam a má absorção e diarréia; nesses casos, aconselha-
se administrar a alimentação enteral em velocidade
e concentração de acordo com a tolerância do
paciente, para evitar sobrecarga intestinal(36).
Outro fator que está relacionado com a ocorr
ência de diarréia é o uso de antibióticos que alteram
a flora intestinal e produzem super crescimento de bact
érias e formação de gases. Constipação também
pode ocorrer em alguns pacientes devido à baixa
quantidade de resíduos dessas dietas, levando à diminui
ção dos movimentos intestinais e dor. Para minimizar
tal efeito, existem, no mercado, dietas enterais
com fibras.
Pneumonia aspirativa é uma complicação grave,
que deve ser evitada, mantendo-se o paciente em
posição sentada ou semi-sentada durante ou após a
administração da dieta e, uma hora após , posicionandose
a sonda em duodeno ou jejuno e ainda usando-se
bomba de infusão, para se evitar um excesso de volume
infundido acidentalmente com conseqüente refluxo.
Sobrecarga de volume ou de hidratos de carbono
em pacientes desnutridos, que já apresentam a musculatura
cardíaca e respiratória diminuídas, pode levar
à insuficiência cardíaca ou respiratória. Estar atento à
quantidade de nutrientes, oferecida, observar sinais e
sintomas como dispnéia, aumento da freqüência res100
MRDL Unamuno e JS Marchini
piratória, balanço hídrico positivo, edema e irritação,
ajudam a detectar um desequilíbrio hidroeletrolítico
durante a terapia(2).
Hiperglicemia, evidenciada pelo aumento dos
níveis de glicose sangüínea e presença de glicose na
urina, pode resultar do excesso de hidratos de carbono
da dieta ou relativa insensibilidade à insulina devido
à sepse, insuficiência insulínica, no paciente diabé-
tico, idade, terapia com esteróides ou diabete mellitus
não diagnosticado(5). O paciente poderá ter suficiente
secreção de insulina para prevenir cetose, mas não o
suficiente para evitar a hiperglicemia. Por isto, deverá
ser avaliado em intervalos regulares, principalmente
durante a primeira semana, sinais e sintomas de
hiperglicemia. Se ocorrer elevação dos níveis de glicose
sangüínea e/ou urinária, o volume de dieta administrado
terá que ser reduzido ou verificar se a administra-
ção de insulina está indicada.
Os problemas com eletrólitos e oferta de líquidos,
observados com mais freqüência são: hiponatremia,
hipernatremia, hipocalemia e hipercalemia freq
üentemente relacionados com administração hídrica
em excesso ou insuficiente.
Inadequada administração de água, aumento das
perdas hídricas, devidas a diarréia, perspiração e vô-
mitos, freqüentemente levam à desidratação. Os pacientes
comatosos são particularmente vulneráveis à
desidratação devido à impossibilidade de referir sede.
Pacientes idosos e febris, com função renal normal,
devem ter um balanço hídrico diário positivo de 500
ml, a menos que apresentem edema. Quando existem
sinais de desidratação, água adicional deve ser administrada
junto ou entre os períodos de alimentação.
Além do balanço hídrico, turgor da pele e nível de consci
ência do paciente devem ser avaliados.
As complicações que podem ocorrer nas ostomias
são basicamente as mesmas encontradas quando
se usam sondas nasogástricas e nasoentéricas. A
pele ao redor da ostomia deverá ser mantida sempre
limpa e seca ou devem ser utilizadas placas adesivas
de hidrocolóide.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A identificação de pacientes com alto risco de
desnutrição e o conhecimento da equipe multiprofissional
sobre as técnicas de terapia nutricional, oferecida
através de sondas, garantem uma melhor recupera
ção de pacientes internados em hospitais e tamb
ém dos que estejam em seu domicílio.
UNAMUNO MRDL & MARCHINI JS. Gastric/enteric tube: care on the insertion, administration of diets and
prevention of complications. Medicina, Ribeirão Preto, 35, 95-101, jan./march 2002.
ABSTRACT: More and more , the nutritional therapy is recognized as an important fact in the
recovery of sick people. The modern tubes make possible the offering of nutrients and improve
nutritional conditions in a less uninvasive method, since the digestive system has at least part of
its absorptive capacity. This proceeding needs specialized care, because it can have complications.
The staff must have knowledge of the installation of the tubes, infusing of diet and practice to
prevent, recognizing and take care of the patient during these complications. We show the technique
of introduction of tubes, infusion of the diet and the main complications that may come from this
therapy
UNITERMS: Enteral Nutrition.
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Recebido para publicação em 01/08/2001
Aprovado para publicação em 25/02/2002

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